segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Peripécias de fim de ano

Chegando o fim do ano, volta a correria de fim de período(s) na(s) faculdade(s) e, pra variar, encontro-me sem tempo nem pra comer – porque pra beber a gente dá um jeito. Recordo agora os bons tempos de colégio, quando eu era menos triste e não sabia, quando o ápice da diversão era jogar futebol e videogame, ler jornais, livros e revistas e, quem sabe, cruzar olhares tímidos com alguma menina.


Voltando aos fatos marcantes e “envergonhantes” da minha vida, que não foram poucos, lembro dos tempos que morei em Fortaleza-CE, lá pelos 14 anos de idade. Bons tempos, onde passei de nerd quase-mudo a nerd quase-tímido e onde consegui realizar algumas proezas catastróficas, exatamente nos finais de anos (da passagem de tempo, sem conotações implícitas).


Exatamente no último dia letivo da 8ª série do fundamental, sem mais professores a suportar, estava eu com meus companheiros a jogar vôlei dentro da sala de aula. Quer dizer, estavam eles a jogar vôlei. Partida um tanto interessante, pois a “bola” tratava-se da bolsa de uma das colegas de classe.


Eis que surge o atleta e solta a pérola “toca pra mim!”. Ao receber o passe, o tal jogador, ao tentar repassar a “bola”, consegue acertar um dos ventiladores do teto, empenando uma hélice. A “bola” é delicadamente arremessada por ele contra a parede, batendo num ventilador lateral, que fragilmente se despedaça e esfumaça, quase tanto quanto meu coração imaginando o quanto da pele eu iria perder ao contar o fato ao meu pai.


Mais uma vez, exatamente no último dia letivo do 1º ano do ensino médio, sem mais professores a suportar, surge algum malandro com a brincadeira do “montinho”, que consistia basicamente em derrubar alguém para todos os outros pularem em cima. Um dos peraltas sugere atacar um professor e, o primeiro a sofrer o ataque (que, para melhor descrever, atendia pelo pseudônimo de Rabicó), se esquiva e distribui socos e pontapés aos que se aproximam. Escapou, praguejando contra a quadrilha.


Em sã consciência, a turma ataca o segundo professor. A sala fechada, as luzes apagadas. O professor, que não lembro o apelido, mas que era um anão de jardim ou pintor de rodapé, recebe um ataque por trás (ui!), uma rasteira que o derruba e uma seqüência de twists carpados na coluna. A saga rendeu uma expulsão, dois termos de compromisso e algumas advertências e orelhas queimadas. Eu, que já ia embora do colégio, fui poupado.


Este mesmo professor, o pequeno polegar, tinha uma célebre frase, que agora deve usar com freqüência. Quando chegava num lugar agradável, comentava: “Aqui é o paraíso... Nenhum aluno por perto!”.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sobre o bisavô dos meus netos

Queridos netos, eu nem sei o que dizer do seu bisavô. É uma daquelas pessoas indescritíveis, daquelas que conseguimos apenas admirar. Ou pelo menos foi alguém assim, se vocês não tiverem a satisfação de conhecê-lo.


Pois que o velho fez aniversário de quase-50 (quarenta-e-cinco, salvo engano) e, como sempre, foi um dia regado a um bom e velho destilado – para ele, que como quase sempre ocorre em datas bebemorativas, deve ter ficado embriagativamente sonolento.


Pelo nosso script habitual, dei-lhe tapas nas costas, que foram retribuídos com outros tantos; dei-lhe os “pêsames” pela senilidade próxima; enfiei-lhe o dedo no umbigo, somente no umbigo; soltamos boas piadas, com boa música e bons amigos. (Faltou-nos um bom jogo de futebol, que não foi apresentado pelo nosso Campinense Clube em ascensão a Serie C do futebol nacional – ao tempo em que vocês lêem, meus netos, provavelmente o Campinense já deve ter se tornado algo menos lastimante).


Passam os “anos” e o velho nem sente, com trocadilho. Assim, com jeito de moleque e usando bom humor pra disfarçar os cabelos brancos e a careca “entrando” ele realmente não parece envelhecer nunca. Assim, não percebemos o tempo que passou, nem percebemos o quanto ambos estivemos distantes e quanto tempo desperdiçamos sem saber a falta que nos vai fazer. Meus netos, não desperdicem o tempo que puderem usufruir de convívio com os anciões, mesmo que a demência lhes corrompa o que restou de fígado – não me referindo a ninguém em particular.


Ao meu velho, saiba que minhas lágrimas, misturadas ao meu riso, são de felicidade por podermos partilhar estes momentos simples, de conversa fiada e bebida por sua conta – não que este detalhe tenha relevância.


Que os anos continuem passando e você consiga agüentar este peso nas costas sem sentir nada. Que Vinicius, seja “de Morais” ou Rangel, esteja aqui para cuidar de nossos corpos cansados pela vida prazerosa que tivemos e que teus bisnetos possam supor que você foi um mártir ou algo se aplique a quem se tem saudade.


“Tudo começou quando o filho morria de vergonha do pai, porque o pai era palhaço de um circo sem futuro.
Ele cresceu sem dizer pros amigos onde o pai trabalhava.
Sempre envergonhado, cresceu com a vida muito amargurada, se formou em outra coisa.
Um certo dia recebe a notícia de que o pai está no leito de morte.
Ele corre lá, entra no quarto, tira a gravata, tira o paletó, se ajoelha e diz:
- Pai, me ensina a ser palhaço?
- ...
- Pai, me ensina a ser palhaço?
- ...
- Pai, me ensina a ser palhaço?
- Isso não se ensina, SEU BOSTA!”


(Trecho de “Palhaço do Circo Sem Futuro” – Cordel do Fogo Encantado).

domingo, 2 de novembro de 2008

"Injeção" de ânimo

Quase me esqueci que o motivo principal que me fez cair no delírio de escrever publicamente foi bem mais altruísta e bem menos de tentar tirar uma casquinha de escritor-fracassado-tentando-fingir-qualidade. Nunca fui bom escrevedor, embora esforçado. É bom dizer que a palavra e eu entramos em comum acordo sobre nosso relacionamento fracassado: eu entro com o pé, ela com a bunda.


Voltando ao foco, o cerne, o epicentro, o âmago... Bom, a questão é que isto existe para dizer coisas que não costumo dizer (ou que nunca digo mesmo), para publicar coisas não-íntimas e fazê-las passar por íntimas e impublicáveis. Difícil entender como alguém se interessa pela minha vida – sim, isso foi um recado para você, trouxa, ler um livro que preste ou fazer algo útil (te amo, beijomeliga).


O intuito era guardar recordações de uma vida regada a entorpecentes, madrugadas, música e boa companhia, fazendo os meus netos acreditarem que tive uma vida plena de prazeres e que não saibam que ao vivo foi bem pior. Contem para meus bisnetos que “o vovô era o cara!” – numa linguagem diferente porque “o cara” vai ser uma expressão careta.


Então, meus queridos netos, quero que saibam que o seu avô também passou por maus momentos na sua curta carreira. O que fato vos relato agora foi vivido em um mês de Junho de 2008, famoso pelo festejo junino durante 30 dias sob forte chuva, músicas outrora boas e bebidas outrora embriagáveis.


Seu velho avô resolveu virar a noite acordado e ir para a faculdade assistir aula. Muitos dos diálogos, imagens e ações desse dia eu não me lembro – vulgarmente conhecido como Mal de Alzheimer Alcoólico.


Acompanhado dos colegas Silas e Charles, com conversas que iam de Chico Buarque a cabarés avulsos e atitudes que iam de urinar em locais improváveis da faculdade de Comunicação (banco, placa e árvore) ao romantismo de entregar “uma flor para uma flor”; não lembro mais nada de interessante que tornasse o dia assim tão inesquecível.


O melhor viria depois, numa crise de sinusite que me leva ao hospital, ao soro fisiológico na veia e ao clímax do evento. Durante meu repouso no hospital, eis que surge um bravo e honrado enfermeiro com o seguinte diálogo:


Enfermeiro, tirando meu lençol: Vou aplicar uma injeção aqui.

Eu, acordando assustado: Hein?

Enfermeiro puxando minha bermuda e “enfiando” o “negócio” na nádega alheia. Sem mais nem menos, sem pedido de licença, sem flerte, sem conversinha no pé do ouvido. Quase um estupro hospitalar num pobre doente indefeso.


Então meus netos, deixo aconselhado: não virem uma noite na farra tendo compromisso na manhã seguinte e não confiem em enfermeiros com agulhas grandes – nem nada mais que seja grande. E sim, experimentem um dia urinar em local inapropriado da sua faculdade e exprimam toda sua repulsa e rebeldia sem causa.