segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Ela

Não há corpo que lhe resista, seja velho ou jovem, seja de rabinho abanando ou olhar carente. Não há físico que lhe escape, nem física que possa explicar por que meio químico seu poder de atração se torna inevitável. Desvendá-la pode ser mistério ímpar, igualável ao por quê dos por quês nunca respondidos.


Ela aprontando das dela e eu aqui sem nada fazer, pensando e repensando o que fazer embora não haja o que se fazer. Idealizo e insisto no pensar, que por ora me apetece, mas que logo mais me entristece e me perturba o sono já escasso e maltrapilho.


De tanto pensar-te sinto conduzir-me em caminhos por vezes sinuosos, atalhos impróprios ou desvios inviáveis, que no mais apenas retardam nosso destino e nosso encontro ao fim da estrada, a ocorrer muito provavelmente em dia e hora igualmente impróprias e inviáveis.


Mas cá estou, minha cara, e contigo uma vez mais espero contar quando nosso dia chegar, que por ti estarei a esperar pois que apenas tu és certa e definitiva a me levar e fazer reencontrar os meus, já entregues aos teus cuidados eternos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Flor e o Espinho

Contempla o luar em luto pelo guerreiro desconsolado, abatido com a mera expectativa do desabrochar daquela ainda não conquistada. Afaga o disritmado pulsar no peito do algoz que outras tantas despetalou, outrora embriagado em êxtases vulgares e enfim rendido à opulência pecaminosa de uma flor ainda em botão. Ouve a concha a ecoar as eternas lágrimas do mar sobre a areia virgem, que do amor só conheceu os amantes por sobre ela estendidos em deleite voluptuoso na escuridão inóspita, apenas com a lua desdenhosa a lhes vigiar. Sente o aroma exalado pelo que o insensível coração teima não contar ao humilde carcereiro, que de mortalha em riste torna-se escravo do perfume inebriante. Beija por fim este corpo cansado, que te pertence mesmo quando perdido em outros corpos cansados, em outras batalhas inevitáveis, em outras flores ainda por desabrochar e despetalar...