quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Ser Corno ou Não Ser

Ontem era apenas antes de hoje, apenas mais um dia comum numa vida comum. Ele acordou, comeu, bebeu e dormiu como de costume nos 89 anos anteriores. Não fez amor, como de costume nos incontáveis anos anteriores.

A infeliz chegou e disse simplesmente “Quero separar-me de ti, velho”.

Respondeu apenas que não estava muito pra piadas e pediu logo o jantar. Não sendo atendido, abateu-se em desespero: “Mas que é isto, mulher, de desacostumarmo-nos assim tão repentinamente após tão longo convívio?”.

“É que você não dá no couro”, respondeu a amada.

Sem desvendar o significado da expressão, resolveu-se por não ser taxado de ignorante. “É o meu problema de gases?”, perguntou ainda, vacilante.

“Não, velhinho. O problema é que você não escova o peba. É a pipa que não sobe mais, a macaca que não leva tapa, a aranha que não apanha, a cobra que não pica... Sacou a parada?”.

Estranhou o linguajar da jovem senhora de 90 anos, com a qual convivia há 70 ininterruptos (e infindáveis) anos. Não ousou questioná-la. Nem sequer cogitava o significado da palavra “gíria” – e nem eu o sei.

Juntou os trapos e foi para um asilo, findar seus dias. Lá soube que sua digníssima ex-mulher trocou-o por um jovem e saudável cinqüentão, charmoso galanteador de quem já era amante há algum tempo. Virou motivo de chacota entre os amigos, os que ainda estavam em posse das faculdades mentais.

Quando descobriu os reais motivos que levaram à falência de seu matrimônio, sentiu-se aliviado e refletiu: “É melhor ser conhecido por corno do que por brocha”.


"Nós fomos feitos um pro outro
Ela é uma vaca eu sou um touro"
(Bois Don't Cry - Mamonas Assassinas)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Relevo Impróprio

A pequena e (não tão) pacata cidade de Campina Grande, Rainha da Borborema. De clima agradável, economia próspera e rica em eventos culturais, sofre também dos males que afligem grandes metrópoles: crescimento de favelas, da criminalidade, do tráfico e do tráfego.

Este último fator, ocasionado por um centro comercial demasiado condensado, desorganizado e controvertido, ultimamente, e com maior freqüência, vem vitimando amortecedores e pneus, órgãos vitais para o bom funcionamento de veículos automotivos, tudo culpa da proliferação exacerbada de uma forma de relevo bastante comum em cidades “entregues às baratas”, tipos incomuns conhecidos popularmente como “buracos”, ou vulgarmente denominados, no atual modelo, “crateras”.

Gerados inicialmente devido à explícita desproporção entre os fatores “verba-para-custeio” e “desvio-de-verba” (também chamado “bolsa-parlamentar”), os tais fenômenos ocorrem em asfalto mal cuidado ou mal construído. As autoridades explicam o fenômeno como uma necessidade pessoal de cada motorista poder externar seus mais profundos sentimentos no trânsito caótico do mundo moderno, aliviando seu stress ao proferir um breve e inofensivo “puta-que-o-pariu” a cada vez que perpassa um dos inusitados declives.

Porém, nada temam caros amigos, pelas conjecturas deste escrevente. É tempo de eleição e os homenzinhos de uniforme alaranjado já ressurgiram para nos defender, capinando o mato e pintando os canteiros. Se não concluírem suas obras em tempo, como costumeiramente ocorre nestes casos, homenzinhos de uniformes alaranjados ou esverdeados voltarão dentro em quatro anos para novamente resgatar a beleza de nossa cidadezinha.

“[...] O governante é sempre um homúnculo em pé sobre uma rolha de cortiça, com seu chapéu de Bonaparte, acreditando e fazendo acreditar que rege o maremoto a seu redor. Governar é manter essa crença.” (Otavio Frias Filho, em Tutankaton).