quinta-feira, 18 de setembro de 2008

In Memoriam

Vejo um tom vermelho amargo, feio e fétido. Não mais pulsante, nem mais dançante em veias alheias. Resultado de um instinto desagradável, um prazer doentio, gratificante... saboroso... delicioso... Se soubesse descrever o dramático monólogo, teria emudecido e transcrito um único gesto, o último ato.

O sangue escorre em minhas mãos suadas e calejadas, silenciosas testemunhas. Depois de haver imaculado meus entes mais queridos, o vejo agora tão puro e casto... O riso sobressalta-se em meu semblante. Incontrolável e inexplicável, como uma droga recém experimentada, viciante, vingativa. Ah, que orgasmo inatingível! Seria trágico, não fosse deveras cômico.

Mas não demore a ir-se, minha cara! Se o adeus demora a dor se expande, o coração não suporta! Não, meu frágil coração não foi feito para despedidas...

Sim... Uma morte sem medo, sem último grito de dor, sem testamento nem ridícula carta de despedida. Sem amigos que lhe velem o frágil corpo indefeso, sem amores que lhe derramem pedidos por um beijo final. Sem sequer vermes que lhe roam as partes íntimas! Definitivamente, o merecido para o supra-sumo da insignificância. Quisera eu tamanha imponência em meu penoso fim.

Arrependimento? Não. Detestável, seria a palavra que a definiria melhor.

Percebo por fim meu próprio sangue misturado aos demais. Poderia até brincar de mal-me-quer, enumerando meus familiares naquelas gotas inertes...

Apago da mente todas as más recordações: ingratas memórias pós-morte são indesejadas, dispensáveis. Dos mortos só nos resta guardar sempre as melhores lembranças, seja pelo que fizeram, poderiam ter feito, ou que apenas inventamos para dar-lhes alguma glória insípida, satisfazer-lhes a alma carente de utilidade.

Guardo então a lembrança de seu corpo contorcido e condoído pela dor. Minha imoralidade não me permite despir a consciência das dores morais, tão banais que são.

Adeus, enfim. Adeus, MALDITA MORIÇOCA.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Algum título imbecil sobre uma mídia idem

Reaproveitamentos de trabalhos são exaustivamente gratificantes, do "ponto de vista" de que não apenas um #$!@# de um professor irá ler o que você desperdiçou tempo pra escrever.

***

Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu (nessa parte finjo que já o li), a mídia, os jornalistas ou a imprensa, como um todo, se permitem influenciar pela busca incessante pelo extraordinário, ou seja, fatos de repercussão nacional e internacional e dos quais acaba tornando-se subserviente.

Devido a essa busca pelo atípico, o que da mídia captamos é meramente e diariamente o ordinário, garantido pela repetição exaustiva das mesmas notícias "extraordinárias", "bombásticas" (com B) ou "catastróficas".

Embora a invasão de Isabelas, Champinhas, Von Histofens, PMs capacitados a matar inocentes e, mais recentemente, uma onda de bebês saltando de janelas; embora tal seja praticamente impossível de se evitar ao perpassar os órgãos de comunicação - é notícia vendável -, devemos à imprensa não apenas a informação que esta transmite, como também nossa alienação criminalística: o "culpado" acaba sendo o antagonista da novelinha que a mesma mídia nos apresenta.

É de sensacionalismo e denuncismo barato que vive nossa imprensa, a velha política do pão e circo que estamos adaptando.

sábado, 6 de setembro de 2008

?

Tava passeando aqui e achei uns versos de 2004 (16 anos?), um pirralho meio 'metido' a 'poeteiro'.
Publicado só pra deixar guardado pra posteridade.

enviado: 2 de dezembro de 2004 18:40

De eu pra mim.

Estou farto da tua caretice, da tua cara triste.
Farto do fato do teu ato ter rimado.
Dessa lucidez alucinatória que insiste
a carregar o fardo do teu desacato.

Tua antipatia banal
Tua empatia imoral
Tua mente podre
Tua rima medíocre.

Engana-te coração se pensas ainda me iludir.
Das armadilhas escapei
de estilhaços ainda estou marcado.

Amor à primeira vista
ou mesmo eterno não existe,
pois os olhos não amam, os corpos sim.