Querido Professor,
Soube que o senhor sabe, como poucos, a arte de dizer muito, dizendo muito pouco. Embora não dês importância a este que te importuna com tamanhos infortúnios, nem provoque os que merecem ser postos à prova, mesmo que lhes desaprove o comportamento reprovável – seja qual for teu método avaliativo para tanto – venho por meio desta carta relatar-te meu apreço por tão digníssima personalidade.
És, a meu ver, algo como um dedicado jardineiro exaustivamente capaz de podar o crescimento das inofensivas plantinhas sob teus cuidados, para que estas não te atrapalhem o caminho, mas que continuem adornando o ambiente, silentes e atentas a menor brisa que te sopra a face desgastada.
Apesar da aparência decadente e abatida, realizas teu trabalho com um ar de imenso prazer, que irrompe do exagerado apreço que tens para com tua pessoa, trazendo sempre consigo o velho sorriso amarelo no canto da boca – junto a uma teimosa saliva a escorrer com freqüência.
Não me entendas mal. Não diminuo teu esforço na árdua tarefa de educar (lecionar, ensinar, ou qualquer outro sinônimo que te convenha), embora por meios que certas vezes te entediem, beirando à sonolência. Tarefa árdua sim, visível que é no teu suor e teu odor que desagradam a alguns dos mais puritanos. Eu não... Eu creio no teu amor ao trabalho, assim como crês orgulhosamente na sinceridade que teus pupilos empenham ao te acariciar o ego e te lustrar com desdém a testa desmatada pela calvície.
Apesar de meu limitado vocabulário, a intenção foi apenas de explicar-te a estima que te tenho, querido professor. Se me delongo em elogios, culpa minha, que não me caibo nesta cadeira desconfortável durante estas horas de palavras tão reconfortantes em tua companhia. Espero com esta singela homenagem conquistar-te não o coração (que este já deve estar deveras maltratado, caso o possuas), mas alguma pouca simpatia. Não que a indiferença já não me seja mais que suficiente.
Do teu dedicado discípulo.