terça-feira, 12 de novembro de 2013

A raposa e as uvas

É como se faz com as uvas.

Você escolhe comer a partir daquela com a casca mais formosa até chegar à que aparenta ter a embalagem menos ruim. E antes que algum purista ressalte que uva chupa-se, destaco entretanto que o bom mesmo é comer até não querer mais - se for possível não querer. 

Na curva ascendente daqueles frutos seletos, as primeiras uvas, que estavam mais verdes e caíam tão bem no paladar, já vão aos poucos sendo substituídas pelas mais maduras. Estas, um tanto machucadas em algumas partes, mostram-se mais apetitosas que as anteriores, de sabor mais apurado ou adequado ao que demandam as papilas gustativas. 

E o glutão, antes esfomeado, alimenta-se mais e melhor. 

Importa-se menos com os pequenos machucados, marcas do sofrimento pelo qual a uva submeteu-se até chegar à sua boca e que eram até mesmo causa fútil para descartar uma fruta inteira ou não comê-la de todo, tornam-se motivo para devorá-la por completo, provando dos mais variados sabores e das melhores sementes. 

Quer então que aquela uva seja o cardápio do dia todo dia. 
Até colher a próxima safra.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Fran.co

Nunca antes na história do mundo se soube tanto sobre o que todos pensam, fazem, dizem. Deve ser por isso que desprezamos cada vez mais uns aos outros, seja mostrando quem somos ou aquilo que propagandeamos.

E quem outrora tinha por ensinamento que a boa educação recomendava ser mais interessante comer calado que falar de boca cheia, agora sente uma ânsia incontrolável por publicizar o alimento, seja boa ou má (mal) comida.

E quem antes apenas sorria amarelo para uma singular foto de família que seria exposta no único quadro de entrada da mais humilde residência, agora ri para o espelho umas tantas caras caricatas até que alguma imagem "reflita" o mais sincero sorriso da mais falsa felicidade que se possa demonstrar.

E esta felicidade mede-se em números curtos, idos e inteiros. E a beleza mede-se em mantra da mais galanteadora das mentiras. E a estupidez mede-se em um jogo com excesso de velhas.

E acontece que o ébrio à moda antiga, injuriado pela beleza que vem da tristeza de mais ninguém, da feiura fundamental de pernas estúpidas - porém, coxa - e do riso frouxo 'frechado' por olhar que não mente, perde-se caduco em cofre que não se pode fechar com as marcas de seu tempo, seguindo de alma aflita sob as dobras do blusão de mais alguém.