Meu caro amigo,
Tudo em cima? Eu estou bem. Não como você, infelizmente; nunca como você.
É com muito prazer que te escrevo, pois que nossa amizade vem lá de trás, dos tempos que éramos pequeninos. A distância cresceu, nós crescemos; tudo cresceu, inclusive a amizade. A cada pincelada que dou no papel, você vai sentir teu dedo no meio, tantas são as aventuras.
O fato é que ando meio cabisbaixo ultimamente. É meio brochante minha vida, sempre sem muita agitação. Não como você, que andou pelo litoral há uns tempos, tomando um solzinho nas costas – e como bem sei, sempre se queimando, sem proteção justo quando o sol caminha mais forte no horizonte.
Vou te contar o real motivo desta carta, sem mais rodeios, sem comer pelas beiras; você sabe que não sou de muita prosa, que não sou muito bom glosador.
A verdade é que enquanto você estava viajando peguei tua mulher na cama com outra. Foi interessante, sabe. Tanto tua mulher quanto a outra eram muito boas. Tudo era apenas uma brincadeira que foi crescendo, crescendo... Não deu outra (quer dizer, deu sim – e como).
É triste, mas eu não me queixo. Que seriam dos amigos se não se contasse a verdade, nua e crua? O cru é exatamente o que nos torna tão suscetíveis a suportar este peso nos ombros.
Sem mais delongas, um grande abraço por trás,
Do teu amigo de sempre e para sempre amigo.