segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sobre o bisavô dos meus netos

Queridos netos, eu nem sei o que dizer do seu bisavô. É uma daquelas pessoas indescritíveis, daquelas que conseguimos apenas admirar. Ou pelo menos foi alguém assim, se vocês não tiverem a satisfação de conhecê-lo.


Pois que o velho fez aniversário de quase-50 (quarenta-e-cinco, salvo engano) e, como sempre, foi um dia regado a um bom e velho destilado – para ele, que como quase sempre ocorre em datas bebemorativas, deve ter ficado embriagativamente sonolento.


Pelo nosso script habitual, dei-lhe tapas nas costas, que foram retribuídos com outros tantos; dei-lhe os “pêsames” pela senilidade próxima; enfiei-lhe o dedo no umbigo, somente no umbigo; soltamos boas piadas, com boa música e bons amigos. (Faltou-nos um bom jogo de futebol, que não foi apresentado pelo nosso Campinense Clube em ascensão a Serie C do futebol nacional – ao tempo em que vocês lêem, meus netos, provavelmente o Campinense já deve ter se tornado algo menos lastimante).


Passam os “anos” e o velho nem sente, com trocadilho. Assim, com jeito de moleque e usando bom humor pra disfarçar os cabelos brancos e a careca “entrando” ele realmente não parece envelhecer nunca. Assim, não percebemos o tempo que passou, nem percebemos o quanto ambos estivemos distantes e quanto tempo desperdiçamos sem saber a falta que nos vai fazer. Meus netos, não desperdicem o tempo que puderem usufruir de convívio com os anciões, mesmo que a demência lhes corrompa o que restou de fígado – não me referindo a ninguém em particular.


Ao meu velho, saiba que minhas lágrimas, misturadas ao meu riso, são de felicidade por podermos partilhar estes momentos simples, de conversa fiada e bebida por sua conta – não que este detalhe tenha relevância.


Que os anos continuem passando e você consiga agüentar este peso nas costas sem sentir nada. Que Vinicius, seja “de Morais” ou Rangel, esteja aqui para cuidar de nossos corpos cansados pela vida prazerosa que tivemos e que teus bisnetos possam supor que você foi um mártir ou algo se aplique a quem se tem saudade.


“Tudo começou quando o filho morria de vergonha do pai, porque o pai era palhaço de um circo sem futuro.
Ele cresceu sem dizer pros amigos onde o pai trabalhava.
Sempre envergonhado, cresceu com a vida muito amargurada, se formou em outra coisa.
Um certo dia recebe a notícia de que o pai está no leito de morte.
Ele corre lá, entra no quarto, tira a gravata, tira o paletó, se ajoelha e diz:
- Pai, me ensina a ser palhaço?
- ...
- Pai, me ensina a ser palhaço?
- ...
- Pai, me ensina a ser palhaço?
- Isso não se ensina, SEU BOSTA!”


(Trecho de “Palhaço do Circo Sem Futuro” – Cordel do Fogo Encantado).

Um comentário:

ALFRAPOEMAS disse...

Cadê o povo? Como não se comentou uma coisa desta? Eu, estou vendo agora!
Tem gente que comenta tanta bosta e não se dá conta do que tem que realmente comentar. Eu me sentiria um bosta se não comentasse este texto. E me senti um bosta depois de comentá-lo... Porque, na medida em que fui me aprfundando na mensagem, eu fui ficando pequenininho, pequenininho... Um bosta...

Saber é saber, velho Taiguara!

Parabéns!

Alfrânio.

Estou ficando seu fã!