quarta-feira, 25 de junho de 2008

À Mais Saudável

"Mãe, você é a mãe mais bonita e saudável do mundo".
Assim eram meus dizeres aos 5 ou 6 anos, num cartão muitissíssimo bem bolado de parabéns pelo Dia das Mães - ou quase assim, pelo que lembro.

Não faço idéia de como veio parar aí o tal "saudável" - de saúde, não de saudade (eu acho).
Talvez fosse o maior preciosismo do meu humilde vocabulário infantil.
Talvez fosse excesso de imaginação, de saudável mãe, você só tem a cara.

O "mais bonita" e o "do mundo" são meros superlativos, clichês de todas as declarações tradicionais, que indicam o valor máximo que pude inserir no contexto. Nessa noção de grandeza, "o mundo" era para mim o cúmulo do ápice do apogeu do superlativismo.
Não sei de onde veio a inspiração, mas o "saudável" deve ter sido a melhor declaração de amor que já fiz, ou ao menos foi a mais marcante, relembrada até hoje entre risos e saudosismo - de saudade, não de saúde.

Minha segunda memorável declaração de amor, clonei-a do seriado do Chaves: "Mamãe querida, meu coração por ti bate, como um caroço de abacate".

Talvez a melhor declaração que eu possa ter feito - auto-creditada por mim mesmo à minha própria autoria - e que apenas repito sempre que posso, é o meu puro e simples "Mãe, você é minha mãe preferida."
Para alguém tão bom em expressar sentimentos, isso já fala mais que centenas de "eu te amo" num rolo de papel higiênico - limpo, de preferência.

Velhinha, parabéns pelo seu aniversário.


Do seu "Bosta Branca".

domingo, 22 de junho de 2008

Vida de Cão



Vinicius de Moraes. Poeta, músico, diplomata (nas horas vagas), boêmio, amante do uísque – seu melhor amigo, o “cachorro engarrafado”. Nove casamentos, incontáveis amigos, inúmeros parceiros musicais. Foi poeta e amou na vida.
Ainda assim, foi ele mais triste que os mais tristes. Palavras de quem entendia do assunto:

"Tristeza não tem fim/Felicidade sim"

"Quero dizer-vos minha tristeza/Minha saudade e a dor/A dor que há no meu canto"

"Eu sempre tive uma certeza/Que só me deu desilusão/É que o amor é uma tristeza/Muita mágoa demais para um coração"

"Se tu queres que eu não chore mais/Diga ao tempo que não passe mais"

"Ah, coração, infeliz até quando?/Para ser feliz/Tu vais morrer de dor"

"De repente não mais que de repente/Fez-se de triste o que se fez amante/E de sozinho que se fez contente."

"Ah, meu amor não vais embora/Vê a vida como chora, vê que triste esta canção"

"Sou eu, o poeta, quem diz/Vai e canta, meu irmão/Ser feliz é viver morto de paixão."

"Se não tivesse o amor/Se não tivesse essa dor/E se não tivesse o sofrer/E se não tivesse o chorar/Melhor era tudo se acabar"

"Eu nem sabia o que era o amor/Agora sei porque não sou feliz"

"Me faça sofrer/Ah me faça morrer/Mas me faça morrer de amar"

"É, meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza/É preciso inventar de novo o amor."

"Vai minha tristeza/E diz a ela que sem ela não pode ser"

"Eu vou sozinho sem carinho/Vou caminhando meu caminho/Vou caminhando com vontade de morrer"

"Minha alma é triste/Como o chão deste cerrado/Que se estende desolado/Por mil léguas de silêncio e solidão"

"Mas deixe a lâmpada acesa/Se algum dia a tristeza quiser entrar/E uma bebida por perto/Porque você pode estar certo que vai chorar"

"A tristeza tem sempre uma esperança/De um dia não ser mais triste não"

"Tristeza que vai, tristeza que vem/Sem você meu amor eu não sou ninguém."

"Pois seja muito feliz/Infeliz já sou eu/Pra sofrer sofro eu"

"É melhor se sofrer junto/Que viver feliz sozinho"

"Se chegue, tristeza/Se sente comigo/Aqui, nesta mesa de bar/Beba do meu copo/Me dê o seu ombro/Que é para eu chorar/Chorar de tristeza/Tristeza de amar."

Voltando aos cães, deles tiro a conclusão de que a tal felicidade, tão sonhada pelo poetinha, existe de fato.
Quando vejo a explosão de alegria de um cachorro de minha tia, apenas por saber que ela acaba de chegar a casa; ou seu olhar carente, plenamente recompensável com dois ou três afagos – correspondidos com eufóricos abanos de rabo; ou quando vai passear de carro até o petshop, três ou quatro quarteirões; ou quando recebe alguma comida atípica, diferente da ração habitual.
Tantas demonstrações de felicidade, originais e sinceras, levam-me a achar interessante a tal “vida de cão” – portanto, agradeço pelo gracioso adjetivo canino que tanto me oferecem.

Com o perdão das intertextualidades...
Caro Vinicius, você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de desinventar.
Caríssimo Deus, tu, que pra me jogar no mundo tinhas o mundo inteiro, por que me fizeste triste? Por que não me fizeste cão?

sexta-feira, 13 de junho de 2008

As Raposas e as Uvas

"Um caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido,
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior"
(Jessier Quirino - Paisagem de Interior)


A multidão apaixonada vibra a cada nova frase sem nexo. O locutor, em cima de um pau-de-arara travestido de palanque, acena, agradecendo os uivos da platéia com gestos brandos de garra e confiança enquanto encena seu monólogo, amparado num vocabulário pomposo.

A cada repetição de "ética" ou "combate à corrupção", novos gritos, estridentes, ensurdecedores, delirantes. Hasteiam suas bandeiras unicolores, em um gesto de gratidão para com aquele líder nato que tirar-lhes-á da mesmice miserável dos tiranos antecessores.

Do outro lado da cidade ou do país, uma mera cópia: multidão, grito, líder, bandeira. Mudam personagens, cores e cenários, ficam os modelos estereotipados.

Poderia ser a história de qualquer eleição, escolha uma. Representa unicamente a capacidade de discernimento de um povo semi-analfabeto, encantado facilmente com cores, símbolos, líderes e palavras "nunca antes" proferidas, arrastados como rebanho que são ao curral eleitoral a que se acostumaram, se acomodoram, se afeiçoaram.

Não os culpo. Não diferenciam propostas, programas e promessas. Vêem aquilo que precisam ver, querem ver: faixas coloridas, palavras bonitas e, de preferência, um bom pão e circo - eufemisticamente chamado "showmício".

Como diz meu velho pai-aço, "tem gente que tem fé demais e gente que fede menos". Eu que não creio, tenho apenas fé. Fé de que um dia... Ah, um dia há de chegar o dia em que o dia-a-dia vai fazer essa gente entender que hão de vir melhores dias... que se pode aprender a analisar, opinar, criticar, julgar.
Se pode esquecer o amor por descendentes oligárquicos de uma politicagem caduca, julgar propostas de governo e deixar de lado paixões a grupos políticos que se perpetuam ou se revezam no poder.

Talvez sejam mandamentos inúteis, utopia adolescente de quem quer mudar o mundo sem sair da frente do teclado. Talvez seja a simples constatação do que acontecerá este ano e em trocentos vindouros.

Gente Humilde (Garoto/Chico Buarque/Vinicius de Moraes)
"E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar"

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Lisura jornalística

Lisura: s. f., qualidade de liso; macieza; fig., sinceridade, lhaneza, franqueza.
Diz-se do grande jornalista aquele que trabalha com a maior lisura possível. No meu dicionário nunca antes coube com tanta evidência a tal palavra.

Eu e o 'colega jornalista' Silas trabalhamos com 100% de lisura nesse último domingo no "Trem do Forró" (Expresso Forroviário).
Explicando: ao desembarcar no distrito de Galante, ao meio-dia, temos a resposta: "Apenas às três horas da tarde é que o trem retornará").

Estávamos, como se diz, mais lisos que sovaco de santo, mais lisos que pau de sebo, mais lisos que piso de granito, mais lisos que bumbum de neném.

E nosso almoço? Apelou-se para o bom coração dos vendedores de camarão:
"Ô do camarão, chega cá! Olha, nós somos do site 'Repórter Junino' (mostrando o crachá), queremos fazer uma entrevista com você. Diga, o que você está achando da organização do evento? As vendas estão boas? Passa 4 camarõezinhos pra cá..."
Nisso, almoçamos uns 30 camarões, pelo menos. Sem despediçar nem mesmo os bigodes.

Em determinado momento começa a chover. Forte. Forte pra c*.
Nos abrigamos debaixo da tenda de uma barraquinha de "filé-miau".
Por sorte, tinha uma brechinha por onde escorria nosso precioso acompanhamento de almoço: água da chuva.

Fora isso, muito forró, muito calor, muito etanol, muitas profissionais e amadoras. Valeu a experiência, estágio para uma excelente perspectiva de futuro financeiro.


Taiguara Rangel, vulgo "Maria"

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Pedreiros Elegantes

Inspirado na comunidade "Pedreiros Elegantes", resolvi dedicar meu tempo de insônia à reprodução de belos "flertes", de forma a torná-los mais plausíveis. Ou não.
Preferidas em negrito.


"Estás ferida? Pois caíste do celeste atmosférico."
- Tá machucada? É que você caiu do céu.

"Mas que esplendoroso par de glúteo, devoraste algum metal precioso?"
- Você comeu ouro? Porque sua bunda tá uma jóia.

"É teu genitor corsário amigo do alheio? Creio seres uma preciosa dimensão de riqueza.
- Seu pai é um pirata? Porque você é um tesouro.

"És de tal forma aclimatante que dissolves o material sintético de meu vestuário íntimo."
- Você é tão quente que chega a derreter o plástico da minha cueca.

"Teu vestuário se deleitaria amarrotado no piso de minha habitação."
- Essa roupa ficaria ótima toda amassada no chão da minha casa.

"Tamanho esplendor não defeca, produz guloseimas de confeito."
- Você é tão linda que não caga, lança bombom.

"És sempre tal qual a vejo agora, ou estás ornamentada de curvas físicas?
- Você é sempre assim, ou tá fantasiada de gostosa?

"És o grão que preenche minha argamassa."
- Você é a areia do meu cimento

"Delicia-te com pasta derivada de cacau? Prazer, derivado de cacau."
- Gosta de chocolate? Prazer, chocolate.

"Teu adorável canino doméstico está de posse de aparelho de conversação?"
- Seu cachorrinho tem telefone?

"Desejas quaisquer guloseima? Da via oral, ou de minha algibeira?"
- Você quer uma bala? Da boca ou do bolso?

"Quem dera ter-te como genitora pois sugaria-te a produção de laticínio até a idade adulta"
- Se tivesse uma mãe como você mamaria até os 20 anos.

"Ao voltar a teu domicílio, deguste bastante líquido incolor e inodoro, composto de oxigênio e hidrogênio, pois tirei-te toda a humidade"
- Quando você chegar em casa beba muita água, porque eu te sequei.

"Posso fazer-te confidência oral?"
- Deixa eu contar um segredo na sua boca?!

"Tens uma única imperfeição. O extenso intervalo espacial entre teus lábios e os meus."
- Você só tem um defeito. Sua boca, tá muito longe da minha.



Aprecie com moderação. O uso em festas não é recomendável.