sexta-feira, 13 de junho de 2008

As Raposas e as Uvas

"Um caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido,
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior"
(Jessier Quirino - Paisagem de Interior)


A multidão apaixonada vibra a cada nova frase sem nexo. O locutor, em cima de um pau-de-arara travestido de palanque, acena, agradecendo os uivos da platéia com gestos brandos de garra e confiança enquanto encena seu monólogo, amparado num vocabulário pomposo.

A cada repetição de "ética" ou "combate à corrupção", novos gritos, estridentes, ensurdecedores, delirantes. Hasteiam suas bandeiras unicolores, em um gesto de gratidão para com aquele líder nato que tirar-lhes-á da mesmice miserável dos tiranos antecessores.

Do outro lado da cidade ou do país, uma mera cópia: multidão, grito, líder, bandeira. Mudam personagens, cores e cenários, ficam os modelos estereotipados.

Poderia ser a história de qualquer eleição, escolha uma. Representa unicamente a capacidade de discernimento de um povo semi-analfabeto, encantado facilmente com cores, símbolos, líderes e palavras "nunca antes" proferidas, arrastados como rebanho que são ao curral eleitoral a que se acostumaram, se acomodoram, se afeiçoaram.

Não os culpo. Não diferenciam propostas, programas e promessas. Vêem aquilo que precisam ver, querem ver: faixas coloridas, palavras bonitas e, de preferência, um bom pão e circo - eufemisticamente chamado "showmício".

Como diz meu velho pai-aço, "tem gente que tem fé demais e gente que fede menos". Eu que não creio, tenho apenas fé. Fé de que um dia... Ah, um dia há de chegar o dia em que o dia-a-dia vai fazer essa gente entender que hão de vir melhores dias... que se pode aprender a analisar, opinar, criticar, julgar.
Se pode esquecer o amor por descendentes oligárquicos de uma politicagem caduca, julgar propostas de governo e deixar de lado paixões a grupos políticos que se perpetuam ou se revezam no poder.

Talvez sejam mandamentos inúteis, utopia adolescente de quem quer mudar o mundo sem sair da frente do teclado. Talvez seja a simples constatação do que acontecerá este ano e em trocentos vindouros.

Gente Humilde (Garoto/Chico Buarque/Vinicius de Moraes)
"E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar"

2 comentários:

Lorena disse...

Talvez a imagem colabore p/ a formação de uma cena da história em específico...Gosto das colocações, mas não sou tão otimista...Acredito que esse dia não chegará, porque sempre vai haver a ignorância. Não a ignorância de não ver, mas a ignorância de ver, fingir que não vê e não mudar. E essa parte sempre se configurará como a maior, acredito eu.

Comentando toda semana. Ou não...
hehe

Sidney Andrade disse...

hey taiguara!
mto massa o novo layout.
me diz uma coisa, como faz pra o blog n ficar no "miolo" da tela e se expandir pros lados como o teu tah agora? Ou isso é próprio desse tema q tu escolheu?
vlw!