Quase me esqueci que o motivo principal que me fez cair no delírio de escrever publicamente foi bem mais altruísta e bem menos de tentar tirar uma casquinha de escritor-fracassado-tentando-fingir-qualidade. Nunca fui bom escrevedor, embora esforçado. É bom dizer que a palavra e eu entramos em comum acordo sobre nosso relacionamento fracassado: eu entro com o pé, ela com a bunda.
Voltando ao foco, o cerne, o epicentro, o âmago... Bom, a questão é que isto existe para dizer coisas que não costumo dizer (ou que nunca digo mesmo), para publicar coisas não-íntimas e fazê-las passar por íntimas e impublicáveis. Difícil entender como alguém se interessa pela minha vida – sim, isso foi um recado para você, trouxa, ler um livro que preste ou fazer algo útil (te amo, beijomeliga).
O intuito era guardar recordações de uma vida regada a entorpecentes, madrugadas, música e boa companhia, fazendo os meus netos acreditarem que tive uma vida plena de prazeres e que não saibam que ao vivo foi bem pior. Contem para meus bisnetos que “o vovô era o cara!” – numa linguagem diferente porque “o cara” vai ser uma expressão careta.
Então, meus queridos netos, quero que saibam que o seu avô também passou por maus momentos na sua curta carreira. O que fato vos relato agora foi vivido em um mês de Junho de 2008, famoso pelo festejo junino durante 30 dias sob forte chuva, músicas outrora boas e bebidas outrora embriagáveis.
Seu velho avô resolveu virar a noite acordado e ir para a faculdade assistir aula. Muitos dos diálogos, imagens e ações desse dia eu não me lembro – vulgarmente conhecido como Mal de Alzheimer Alcoólico.
Acompanhado dos colegas Silas e Charles, com conversas que iam de Chico Buarque a cabarés avulsos e atitudes que iam de urinar em locais improváveis da faculdade de Comunicação (banco, placa e árvore) ao romantismo de entregar “uma flor para uma flor”; não lembro mais nada de interessante que tornasse o dia assim tão inesquecível.
O melhor viria depois, numa crise de sinusite que me leva ao hospital, ao soro fisiológico na veia e ao clímax do evento. Durante meu repouso no hospital, eis que surge um bravo e honrado enfermeiro com o seguinte diálogo:
Enfermeiro, tirando meu lençol: Vou aplicar uma injeção aqui.
Eu, acordando assustado: Hein?
Enfermeiro puxando minha bermuda e “enfiando” o “negócio” na nádega alheia. Sem mais nem menos, sem pedido de licença, sem flerte, sem conversinha no pé do ouvido. Quase um estupro hospitalar num pobre doente indefeso.
Então meus netos, deixo aconselhado: não virem uma noite na farra tendo compromisso na manhã seguinte e não confiem em enfermeiros com agulhas grandes – nem nada mais que seja grande. E sim, experimentem um dia urinar em local inapropriado da sua faculdade e exprimam toda sua repulsa e rebeldia sem causa.
Um comentário:
Sim, meu velho. Mas faltou você dizer o essencial dessa experiência: FOI BOM PRA VOCÊ??
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