terça-feira, 4 de agosto de 2009

Desprazer

Ele sentiu fome. Um apetite voraz, daqueles de retirante sertanejo em pleno êxodo num pau-de-arara. Uma fome incomum – daquelas que fazem descrer ao assistente social lecionando planejamento familiar.


Nessa insaciável necessidade de devorar o que lhe atravessasse o caminho, sua mente abrigou um pensamento febril, indiferente aos preceitos dos mais moralistas, estes tantos hipócritas idealistas que nos surgem apenas para criticar. Não era de sua índole, embora antes que pensasse, já agia com um despudor rarefeito, esganiçado, puto da vida e com a vida que tanto lhe maltratara.


Vida da qual ela mal sabia o significado, analfabeta de parteira que era. Da volúpia mundana, da luxúria pecaminosa, de tudo que poderia um dia ser prazeroso lhe foram impostas apenas as amargas dores.


Estava preenchida com todo aquele suor repugnante, exalado por criatura idem. Para sua sorte, caso se possa assim supor por falta de palavra mais adequada cabível no vocabulário deste desalmado escrevedor, o tal voluptuoso faminto, apesar de muito bem prendado, sofreu de grave inaptidão momentânea, imprescindível para a consecução de seu objetivo.


Para seu azar, uma vez mais aqui perdoado pela pobreza criativa deste que vos fala, o tal devorador saciou sua gula, ou talvez seu orgulho, com o tradicional desfecho de assassinato digno de uma tragédia teatral. Ou provavelmente digna apenas do pouco gênio inventivo do escritor.


Concluído o ato, os demais figurantes continuaram com seus afazeres, perversões e orgias. O cotidiano do cabaré não mudaria por culpa de qualquer puta morta.

4 comentários:

Sidney Andrade disse...

A fome é uma desgraça que desgraça mesmo os que não sofrem dela, hein...

Silas Magnata disse...

Precisava disso tudo?

Maria disse...

Nossa!!!

Maria disse...

Queridoooo, meu blog teve um probleminha e a atualização não está aparecendo no seu blog. Qnd vc tiver um tempinho, muda a url do blog, ta? Agradeço.

Beijo meu