Eis o exemplo: um moleque saído do berço e que já se supõe escritor, enquanto quem o lê, com seus preciosismos, sarcasmos e piadinhas fúteis, já o supõe bom escritor.
“É preciso pintar bem o medíocre”, Gustave Flaubert.
“Com bons sentimentos, faz-se má literatura”, André Gide.
Por mais que tente começar algo de conteúdo, vejo-me eternamente enfrentando minha “patricinha interior”, remetendo-me à banalidade habitual. Comecei então a divagar sobre o poder da palavra e do palavrão.
A primeira, uma donzela indefesa, subordinada aos insensíveis que dela fazem uso, com ou sem destreza, freqüentemente exerce sua soberania feminina sobre seu macho, o palavrão. A tal senhora, não se sabe em que momento histórico, passou a subjugar o então másculo e viril palavrão aos seus encantos. Este, como é próprio a todo homem, se subordinou aos encantos da amável fêmea, tornando-se mera “palavra de baixo calão”, alcunha que lhe rebaixou à categoria de obsceno, imoral, impróprio (não que este autor tenha qualquer objeção a tais adjetivos que tão raramente lhe são endereçados).
Teria o primeiro humano pré-histórico inicialmente dito uma palavra, apontando aos seus semelhantes determinada coisa, nomeando-a, ou teria ele primeiro dito um palavrão, como reflexo ao se machucar tentando descobrir a função daquela “coisa”? Ó vã filosofia, onde estão as respostas para tantas perguntas que me afligem a alma? Como seguir a vida, agora que tenho tais dúvidas em minha mente?
Indago, finalmente, o porquê dessa afeição peculiar dos que se dizem “cultos” pelo uso da palavra, em detrimento do palavrão; sendo a tal figura feminina uma dissimulada, em razão do uso que dela fazemos, e o macho em questão, a mais sincera expressão do pensamento, vez que não se permite ao desfrute de os usuários alterarem-lhe o significado.
Abaixo, deguste (!) um texto, muitíssimo criativo, que me chegou como de autoria de Millôr Fernandes. Na internet, nunca se sabe.
E aqui, um breve resumo sobre o palavrão e seus usos.
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