Tá vendo essa vergonha, seu moço? É por ter que pedir e ter sempre negado. Tá vendo esse rosto sujo, essa roupa maltrapilha? É coisa do descaso de quem não cria caso com qualquer coisa. Tá vendo essas mãos calejadas? É de não achar trabalho aceitável, mas conseguir achar lixo comestível.
E o moço, com vergonha da origem nobre e da falta de nobreza de caráter; com vergonha do pesar de lágrimas contidas e apesar de saber-se afortunado; com vergonha das mãos delicadas que nunca trabalharam e das mãos que escreveriam o que o outro não seria capaz de ler, ficou ali parado diante daquele velho.
Velho olhar cansado. Olhar de fome e medo, misturado à apatia da rotina que o consumia, do habitual asco dos limpos e apressados que por lá passavam, de lá olhavam e lá mesmo rejeitavam.
O moço cedeu-lhe umas poucas moedas que trazia consigo, nada mais. Recebeu um agradecimento padrão, nada mais.
E o sinal abriu.
E a vida prosseguiu.
E as noites de insônia se intensificaram.
Um comentário:
yeah, tbm adorei
acho q tô virando tua paga-pau oficial, fazer o que, todos os teus textos ficam bons...
O tema abordado nessa ultima postagem sua chama minha atenção.
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